11/04/2012

FÁBIO JR. E O ANO DE 1979


As discotecas, a TV Tupi, o grupo ABBA e a ditadura militar começavam a sair de cena quando, no nem tão longinqüo ano de 1979, Fábio Jr. estourou nas paradas com a música Pai.
Na verdade, Pai foi tema de abertura da novela Pai Herói, de Janete Clair, transmitida no horário das 20h00 pela Rede Globo. Não podemos afirmar que foi uma música que marcou a época, por que marcou todas as épocas. Desde que foi lançada, Pai é tocada exaustivamente nas festas de aniversários de patriarcas e homenagens aos pais que se foram. Impossível imaginar quantos não choraram com o PPS com os fotos de velho (ou não tão velho) com a canção de Fábio Jr. de fundo.
Fábio Correa Ayrosa Galvão, ou Fábio Jr., lançou seu primeiro disco com o grupo Os Namorados no início dos anos 70. A música principal era Rio Amarelo, uma versão de Yellow River, de Christie. A outra era A Saudade Que Ficou, composta pelo próprio Fábio. O primeiro trabalho solo saiu em 1975. Já o primeiro grande trabalho como ator foi na novela Despedida de Casado, infelizmente, proibida pela censura. O que pouca gente sabe é que Pai foi lançada no seriado Ciranda Cirandinha, exibida pela Globo em 1978. Foi a música que inspirou a novela, não o contrário.
Ciranda Cirandinha catapultou a carreira de Fábio Jr. como ator e cantor. Como ator, participou de novelas inesquecíveis como a primeira versão de Cabocla (ao lado de Glória Pires, com quem acabou se casando e separando algum tempo depois), além de Água-Viva, O Amor é Nosso, Roque Santeiro e Pedra sobre Pedra. Em Roque Santeiro (de 1985) interpretou o ator Jorge Mathias e em Pedra sobre Pedra (1992) o fotógrafo mulherengo Jorge Tadeu, dois dos seus personagens mais memoráveis. Como cantor, lançou músicas do porte de Esses Moços (da abertura de Olhai os Lírios do Campo), Eu me Rendo (de O Amor é Nosso), Vinte e Poucos Anos, Quando Gira o Mundo e Sem Limites para Sonhar - esta com participação da cantora internacional Bonnie Tyler.
Enquanto o Brasil se emocionava com o amor impossível de André e Carina - personagens principais de Pai Herói, interpretados pelos atores Tony Ramos e Elisabeth Savalla -, Fábio Jr. contracenava no filme Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, ao lado dos atores Betty Faria e José Wilker. Foi uma das grandes bilheterias nacionais daquele final de anos 70 e início dos 80. Bye Bye Brasil deve ter perdido apenas para O Cinderelo Trapalhão em venda de ingressos.
Os filmes mais falados de 1979 foram All that Jazz, Tess e Kramer versus Krammer. Com direção de Ridley Scott, Alien – o 8º Passageiro deixou as platéias com os cabelos em pé. O Campeão, de Franco Zeffirelli, fez o público chorar rios de lágrimas. Hair, de Milos Forman, reavivou o movimento hippie e a Era de Aquário. Roteirizado e dirigido por Sylvester Stallone, Rocky II dava continuidade a uma franquia de sucesso, ganhadora do Oscar de melhor filme. Enfim, Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, entraria para a história como um dos melhore filmes dos anos 70 – e, talvez, de todos os tempos.
As novelas mais comentadas foram Os Gigantes, Cabocla, Marrom Glacê, Feijão Maravilha e, obviamente, Pai Herói. Lembrando que o tema de Marrom Glacê foi cantado pelo saudoso cantor Ronaldo Resedá, e o de Feijão Maravilha, pelo grupo As Frenéticas. A música Danci’n Days, da abertura da novela de mesmo nome de 1978, é até hoje ligada à onda disco– além de tocada repetidamente nas festas do tipo flash back.
A Globo dominava (como ainda domina, embora já não tanto quanto antes) a audiência na TV. A partír de Escrava Isaura, de 1976, suas novelas passaram a fazer sucesso no mundo todo. Só que em 1979, a emissora resolveu apostar suas fichas nas séries brasileiras. Lançou Malu Mulher (aproveitando a discussão sobre a aprovação do divórcio no Brasil), Carga Pesada e Plantão de Polícia. Interpretada pela atriz Regina Duarte, Malu encarnava uma mulher diferente da Amélia que os brasileiros conheciam até então. Malu era trabalhadora, indepentende e forte.
Os brasileiros sofriam com a alta constante dos preços. O dragão da inflação comia a renda, desvalorizava os salários e atormantava a população e o recém-empossado presidente João Figueiredo. Sob o comando de um obscuro metalúrgico conhecido como Lula, as greves agitavam o ABC paulista. No Irã, estourava a Revolução Islâmica. Todos se perguntavam onde cairia a estação espacial Skylab. O carro a álcool era a maior novidade do mercado automobístico naquela época. Outra novidade era a abertura política.
Nem todos sabiam quem era Fernando Gabeira, exilado político que, graças à anistia do governo, retornava ao Brasil. Mas sabiam de Sidney Magal. Com sua pose de cigano sensual, Magal conquistou a audiência das rádios e programas de TV populares.
Além de Fábio Jr. e Sidney Magal, ouvia-se o grupo sueco ABBA, o norte-americano Village People, o também norte-americano Chic (“Aaahh freak out! freak out! Aaahh freak out!”).
Lançada pela Som Livre, a trilha sonora internacional de Pai Herói não ficou muito atrás em vendas da trilha nacional. Mirrors, de Sally Oldfiel foi exaustivamente repetida nas vitrolas. You Need me, de Anne Murray, conquistou os corações apaixonados. Com seu coro infantile, Pigeon Whithou a Dove, de Patrick Dimons, grudou como cliclete.
Os autores mais lidos de 1979 foram J. M. Simmel, Harold Robbins, Arthur Hailey, Pedro Nava, Luís Fernando Veríssimo (quem não se lembra de Ed Mort?) e a enterna Rainha do Crime Agatha Christie.
Crianças usavam sapatos Ortopé. Adolescentes curtiam o tênis Puma. Os homens elegantes de São Paulo compravam ternos na Casa José Silva. As roupas íntimas da Poesi estavam em todos os armários femininos.
Por falar em crianças, elas adoravam o drops Dulcora e as balas Soft. Todo mundo deve ter se engasgado com as balas da Soft, sem dúvida. Mas o que causou sensação foi o lançamento de um aparelho chamado Telejogo, vendido com estardalhaço nas lojas de departamentos Mappim. O telejogo foi uma espécie de de avô do Nintendo e pai do Atari.
O ano de 1979 foi realmente memorável. É difícil esquecê-lo. Assim como é difícil esquecer a década de 70 como um todo.
Quanto à música de Fábio Jr., ela continuará sendo executada por um longo tempo. Ainda não criaram uma música melhor para o Dia dos Pais e para o aniversário do nossos coroas.

Um comentário:

  1. Robson Costa Vianna30/12/12

    Antigamente era bem melhor.
    Hoje em dia há tanta violência,que não há mais tanto romantismo como antes.

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