31/03/2010

MICHAEL JACKSON E O ANO DE 1983


Michael Jackson foi um produtor, compositor, dançarino e cantor norte-americano. Nasceu na cidade de Gary, Indiana, em 1958 e morreu em Los Angeles, Califórnia, em 2009. Jackson começou a cantar ainda menino, no grupo Jackson Five – do qual faziam parte seus irmãos. A carreira solo começou ainda na infância, quando gravou o disco Go to be There, de 1972. Em seguida, vieram Ben, Music and Me e Foverer, Michael. Mas, foi com o disco Off the Wall, lançado em 1979, que Michael despontou como um astro de primeira grandeza do cenário pop internacional.
Off the Wall foi um fenômeno de vendas. Sem o Jackson Five, o “agora adulto” Michael liderou a parada musical de diversos países. Mas nada comparado com Thriller, disco lançado em novembro de 1982. Produzido por Quincy Jones e com participações de Eddie Van Halen, Paul McCarthney e Vincent Price, Thriller é, até hoje, o disco de maior vendagem da história da música. O álbum causou enorme sensação, fazendo de 1983 e 1984 os anos de Michael Jackson. Conquistou a primeira posição em vendas nos Estados Unidos em fevereiro de 1983, permanecendo ali por 37 semanas. Nove faixas de Thriller ocuparam o topo das paradas musicais e presume-se que, até o ano da morte de Michael, tenha vendido 106 milhões de cópias.
O clipe de Thriller - faixa que dá nome ao disco - foi apresentado no Brasil pela primeira vez no programa Fantástico, na Rede Globo. O sucesso foi estrondoso. Tanto que milhares de pessoas ligaram para a emissora solicitando uma reapresentação. Thriller foi reexibido com o mesmo sucesso na semana seguinte. Mas, antes que o single e o clipe de Thriller fossem lançados, Michael já reinava nas paradas com Billie Jean e Beat It. As músicas mais solicitadas, escutadas e compradas no tradicional vinil ao longo de 1983 eram cantadas na voz de Michael Jackson.
Billie Jean foi a música mais executada nas rádios brasileiras de 1983. Michael Jackson disputou as paradas musicais com os grupos The Police, Men at Work, Culture Club, Toto, Journey, Duran Duran e Spandau Ballet. Entre os cantores e cantoras internacionais que também disputaram os ouvintes da época estavam Irene Cara, Bonnie Tyler Michael Sembello, David Bowie, Eddy Grant, Prince, Lionel Ritchie, Marvin Gaye e Bryan Adams. O sucesso de Irena Cara e Michael Sembello deve-se, em grande parte, a Flashdance, musical que estourou nos cinemas em 1983. Bonnie Tyler conquistou corações com sua romântica Total Eclipse of The Heart.
Entre os cantores e grupos brasileiros, os mais ouvidos foram Ritchie, Neuzinha Brizola e o grupo Blitz. Quase todo mundo sabia o refrão de Você Não Soube me Amar, o maior sucesso da Blitz até hoje. Os refrões de Nosso Louco Amor, do conjunto Gang 90 e as Absurdetes, também eram conhecidos de todos. Filha do governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, Neusinha estourou com a música Mintchura. Outros grandes ídolos musicais da época foram Rita Lee, Lulu Santos e 14 Bis.
Os acontecimentos mais comentados da época foram as enchentes no Sul e grande seca no Nordeste. O Brasil ficou chocado com o roubo e desaparecimento da taça Jules Rimet, conquistada pela Seleção na Copa do México de 1970. As maiores tristezas foram as perdas do ator Jardel Filho e do jogador de futebol Garrincha. Um avião sul-coreano foi derrubado pela União Soviética. Raúl Alfonsín foi eleito presidente da Argentina.
Os maiores ídolos dos esportes foram Bernard, da seleção masculina de vôlei e Hortência, da seleção de basquete. Bernard tornou-se famoso por seu saque forte, que projetava a bola nas alturas – e que, não à tôa, foi batizado de “Jornada nas Estrelas”. Na seleção de futebol, o maior ídolo era o flamenguista Zico e na natação, não se falava de outra pessoa que não fosse Ricardo Prado.
E o que os brasileiros de 1983 viram nos cinemas? As maiores bilheterias cinematográficas foram O Cangaceiro Trapalhão e Os Trapalhões na Serra Pelada, ambos estrelados pelo grupo Os Trapalhões - formado por Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias. A terceira parte da trilogia Guerra nas Estrela, chamada de O Retorno de Jedi, foi outra grande sucesso de público. Gandhi, o épico que contava a história real do líder indiano, causou comoção no mundo todo. Entre os musicais, o destaque foi para Flashdande. O filme de terror mais visto foi Um Lobisomem Americano em Londres.
O principal fato do mundo televisivo foi a fundação da TV Manchete pelo empresário Adolpho Bloch, dono de publicações como as revistas Fatos e Fotos, Pais e Filhos e Manchete. Foi, aliás, na mesma TV Manchete que a modelo Xuxa estreou como apresentadora de TV.
Uma dos folhetins de maior audiência foi Eu Prometo, escrita pela novelista Janete Clair. O detalhe é que Janete deixou a novela inacabada, vindo a morrer de câncer pouco tempo depois. Mas, a novela mais divertida (e que, a bem dizer, marcou a TV brasileira) foi Guerra dos Sexos, com a talentosa dupla de atores Fernanda Montenegro e Paulo Autran. Nosso Louco Amor, com trilha de abertura feita pela Gang 90, não ficou muito atrás.
Sidney Sheldon, Irving Wallace, J. M. Simmel, John Le Carré e Harold Robbins foram alguns dos “bestsellers” de 1983. Livros como O Reverso da Medalha, de Sidney Sheldon, alcançaram grande popularidade. O maior campeão de vendas do período, no entanto, foi o brasileiro Luís Fernando Veríssimo. Filho do escritor gaúcho Érico Veríssimo, Luís Fernando encabeçou por semana a lista dos mais vendidos com o livro O Analista de Bagé. A popularidade do hilário analista motivou o escritor a escrever uma sequência intitulada Outras do Analista de Bagé.
Os homens elegantes de cidades como São Paulo compravam ternos na Casa José Silva. Donas de casa faziam compras no Pão-de-Açucar, Barateiro, Casas da Banha e Jumbo Eletro. As lojas de departamento prediletas eram Mappim e Mesbla. Muitos tinham caderneta de poupança Delfin. Com a iminente falência da Delfin, os apavorados correntistas imigraram para a Haspa e o Comind. Acharam que eram mais seguras, sem dúvida.
Depois de adquirir biscoitos Duchen, iogurtes Danone, chocolate Cad-Lac, purê de tomate Purecica, sabonetes Phebo e creme de barbear Denin, entre outros produtos, na Casas da Banha, muitas famílias passavam na sorveteria Sem Nome para tomar um sorvete de copinho. Os jovens usavam conjuntos Hollywood Sportline, jeans Onix e agasalhos de moleton. Todos, sem exceção, reclamavam dos preços. A inflação era alta e os preços aumentavam todos os dias.
Michael Jackson era popular e querido por todos, em todos os cantos do planeta. Aproveitou sua popularidade para, tempos depois, compor uma música chamada We are the World em parceria com o ex-Commodores Lionel Ritchie. Michael e o amigo Lionel reuniram os cantores mais famosos da época para gravar We Are the World. Kim Carnes, Barbra Streinsand, Kenny Rogers, Steve Wonder, Bruce Springteen e Cindy Lauper participaram da gravação. Mas aí é outra história, que merecia outro capítulo – senão um livro inteiro.

02/03/2010

1982: A BLITZ TOMA AS PARADAS


O ano de 1982 será para sempre lembrado pela Guerra das Malvinas – conflito que envolveu Argentina e Reino Unido -, pela Guerra do Líbano, pela morte da cantora Elis Regina e pela Copa do Mundo da Espanha.
A Copa do Mundo foi esperada com ansiedade pelos brasileiros. Dono de um dos melhores times de todos os tempos, o Brasil era um dos favoritos para levar a taça. Comandada pelo técnico Telê Santana, a seleção contava com quatros dos maiores jogadores de todos os tempos: Zico, Júnior, Falcão e Sócrates. Era, obviamente, um time de estrelas. Ninguém imaginava que o Brasil voltasse sem a taça. Mas havia uma pedra no meio do caminho, uma pedra chamada Itália. Ao perder para a seleção do carrasco Paolo Rossi, a “invencível” seleção viu seus sonhos desmoronarem em menos de 90 minutos. O sonho de tetracampeão foi adiada para 1986 ou, talvez, 1990.
Os brasileiros nunca esqueceram aquela derrota. O grito de campeão permaneceu entalado na garganta durante anos. Mas, a vida tinha que prosseguir e, afinal, 1982, era ano de eleições. O regime dava sinais de abrandamento desde o mandato de Ernesto Geisel. No final do ano, os brasileiros voltaram às urnas, dessa vez para escolher governadores, coisa que não se via desde a década de 60. Foi uma verdadeira festa democrática, e em pleno regime militar.
Dentre as personalidades de destaque do ano estiveram a líder britânica Margareth Thatcher, o presidente norte-americano Ronald Reagan, o presidente brasileiro João Figueiredo (o último militar no poder), o jogador de vôlei Bernard, a cantora norte-americana Diana Ross, o técnico da seleção Telê Santana, a modelo Xuxa, a cantora de MPB Simone e uma banda de rock nova chamada Blitz.
Integrado por Fernanda Abreu, Marcia Bulcão, Antônio Fortuna, Pedro Barreto, William Forghieri, Juba e o vocalista Evandro Mesquita, a Blitz lançou seu primeiro LP, As Aventuras da Blitz, no segundo semeste de 82. O disco foi um arraso. A música Você não Soube me Amar tocou insistentemente nas rádios AM e FM da época. Era difícil encontrar quem não soubesse repetir o refrão de músicas como Mais Uma de Amor, Romance da Universitária Otária e a principal faixa, Você não Soube me Amar.
A Blitz nasceu em uma época especial para a música brasileira, quando Rita Lee era a grande estrela do rock. Mas, tanto um quanto o outro testemunharam o surgimento de uma nova leva de grupos de rock nacionais. Um deles era o Rádio Taxi, grupo que emplacou dois sucessos seguidos nas rádios: Coisas de Casal e Dentro do Coração. Outro grupo de grande repercussão foi o Magazine, com o hit Eu Sou Boy. Titãs, Legião Urbana, Capital Inicial, Os Paralamas de Sucesso e Barão Vermelho já davam o que falar, principalmente nos circuitos undergrounds de grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Quanto tomou de assalto o cenário musical, a Blitz foi obrigada a dividir a atenção dos ouvintes com grandes ídolos internacionais, exemplo do cantor Peter Frampton (com a roqueira Breaking All the Rules) e do grupo Earth, Wind & Fire (Let’s Groove). A cantora Laura Branigam entoava Gloria nas rádios e Joan Jett soltava seus riffs de guitarra em I Love Rock’n’Roll. Paul McCartney fazia dueto com Steve Wonder em Ebony and Ivory, uma canção contra o racismo. Entre os brasileiros, os mais ouvidos, além da Blitz, eram Djavan (com as inesquecíveis Açai e Sina), Dalto (Muito Estranho), Simone (Pequenino Cão, Pão e Poesia e Tô que Tô) e Alceu Valença (Tropicana e Como Dois Animais). Um até então desconhecido cantor chamado Almir Rogério conquistou os programas populares com um “hit tipo chiclete” chamado Fuscão Preto.
Não há como negar: 1982 e 1983 foram os anos da banda de Evandro Mesquita e companhia. Falou-se muito do grupo nessa época. O que também não saiu da boca do povo (que usava tênis Iris e jeans US Top) foi o súbito desaparecimento da cantora Elis Regina. Considerada uma das melhores vozes do Brasil nos períodos 1960/1980, Elis morrera vítima de uma provável mistura de drogas com álcool. O choque com a sua morte foi tamanho que o Teatro Bandeirantes, onde o corpo foi velado, ficou pequeno para tantos fãs e admiradores. Elis virou capa de revista semanal, assunto dos jornais e motivo para relançamentos de discos, inclusive coletâneas com seus maiores sucessos.
Nas grandes cidades de 1982, as pessoas se deslocavam em automóveis como Fiat 147, Fusca, Passat e nos novíssimos Del Rey e Monza. No verão, a moda entre os jovens eram as pickups remodelas (ou “tunadas”, para usar um termo mais atual). De vez em quando, era possível ver uma caminhonete dessas, geralmente em cores fortes, circulando nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro.
O jeans nunca saiu de moda. A diferença é que, na época, usava-se muito calças de marcas internacionais como Yves Saint-Laurent e Pierre Cardin. Os jovens de classe media baixa usavam jeans Matitte e US Top. A modelo Luiza Brunet era contratada de uma marca chamada Dijon, anunciante frequente da revista Manchete. Outra moda do período eram as roupas alusivas a marcas de motos e até de cigarros. Muita gente com mais de 40 anos em 2010 deve se lembrar das linha de roupas Honda Way of Life e Hollywood Sportline. A Honda Way chegou a ter lojas próprias.
Era comum encontrar jovens garotas fumando o cigarro Ella e usando calças de barras curtas – popularmente apelidadas de pula brejo. A mini-saia também era o “must” da época, chegando a ser vistas nas ruas até durante o inverno.
No Brasil da Blitz, Rita Lee e Simone, os filmes de maior bilheteria foram Pixote – A Lei do Mais Fraco, Blade Runner, Mad Max II e a comédia adolescente Porky’s. Nenhum filme, porém, chamou tanto a atenção quanto Tron, uma das primeiras produções a usar largamente a computação gráfica. E nenhum fez tanto sucesso quanto E.T., o Extraterrestre, de Steven Spielberg. E.T. arrastou multidões para os cinemas e fez milhares de jovens derramarem lágrimas com a sua história. Além de atrair um grande público, a terceira sequência de Rock, um Lutador ajudou a alçar a música Eye of Tiger, do grupo Surviver, para as paradas de sucesso.
O hit do Surviver era ouvido com frequência nos grandes aparelhos de som três em um e nos pequenos walkmans. Criado pela japonesa Sony, o walkman virou moda no mundo todo. De Honk Kong a Nova York, de Paris a Porto Alegre, era comum encontrar jovens com os pequenos tocadores de fitas cassette na cintura. Falava-se muito num novo tipo de disco, chamado por aí de CD, mas poucos acreditavam que ele fosse emplacar.
Como sempre, as maiores audiências da TV eram das novelas. As mais assistidas entre 1981 e 1983 foram Jogo da Vida, Brilhante e Elas por Elas. Com uma abertura romântica cantada por Amelinha, o grande sucesso dos finais de noite foi a minissérie Lampião e Maria Bonita. Os festivais da canção da Globo marcaram aquele início dos anos 80, assim como a volta do Cassino do Chacrinha para a chamada Vênus Platinada. O programas humorísticos de maior audiência eram Balança, Mas Não Cai e Viva o Gordo. Em substituição ao Chico City, o humorista Chico Anysio apresentava o Chico Anysio show.
Nas livrarias, os livros mais pedidos foram o Fantoches de Deus (de Morris West), Não Verás País Nenhum (de Ignácio de Loyola Brandão), Crônicas de uma Morte Anunciada (Gabriel Garcia Marquez) e o Analista de Bagé (do gaúcho Luís Fernando Veríssimo). Nenhum escritor, porém, vendeu mais do Marguerite Yourcenar. Dos seus trabalhos, quatro estiveram nas listas dos mais vendidos das revistas e jornais da época: Alexis, Golpe de Misericórdia, A Obra em Negro e Memórias de Adriano.
A Blitz lançou o segundo LP no ano seguinte, 1983. Depois, veio mais um em 1984. Depois, a banda só voltaria a lançar algo inédito em 1990. Entre idas e vindas, formação diferente de formação, a Blitz lançou 10 trabalhos de 1982 para cá. Ela, porém, nunca mais conseguiu a popularidade do início dos anos 80. E 1982 será para sempre lembrado como o ano da Blitz.