15/04/2010

ABBA E O ANO DE 1977


Quem viveu o ano de 1977 deve se lembrar de Ernesto Geisel, o penúltimo presidente do Regime Militar.
Quem viveu 1977 deve lembrar da inflação galopante e da preocupação das donas de casa com a carestia. Jornais, revistas e telojornalísticos chamavam muito a atenção para as constantes remarcações de preços. Para enfrentar a inflação, as famílias eram obrigadas a encher os carrinhos de supermercardos. A intenção era “aproveitar o preço baixo”, pois um produto que hoje valia “X” cruzeiros, amanhã poderia custar bem mais caro. A despesa era feita em supermercados como Pão-de-Açucar e Barateiro.
Quem viveu 1977 deve recordar da morte repentina da cantora Maysa em um acidente de automóvel. Deve também lembrar da morte do eterno Rei do Rock Elvis Presley. O desaparecimento de Elvis foi um choque, comovendo milhões de fãs ao redor do mundo.
Elvis e Maysa viraram assunto de conversa nos botequins, salões de barbeiro e discotecas. Por falar em discoteca, o sucesso do filme Saturday Night Fever (conhecido no Brasil como Os Embalos de Sábado à Noite), acendeu entre os jovens a paixão pelas músicas dançantes dos Bee Gees, Donna Summer, Chic e outros cantores e grupos. Para a juventude de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o grupo Bee Gees era fera. Eles emplacavam sucesso atrás de sucesso. E frequentar discoteca era o maior barato. Regidas pelos chamados disc-jóqueis, algumas dessas “discos” entraram para a história, caso da Hippopotamus e da Papagaio.
Muitos jovens iam para a discoteca em turma, normalmente dirigindo um GM Chevette ou um Dodge Polara. Os mais endinheirados (como muitos frequentadores da Hipoppotamus) iam de Alfa Romeo 2300, Chevrolet Opala ou, em certos casos, Ford Galaxie. Grande e espaço, o Galaxie era automóvel de rico, gente que manjava de dinheiro e negócios.
No caminho das discotecas, ouvia-se nos moto-rádios sucessos como Tonight the Night, de Rod Stewart, e Easy, do grupo Commodores. Arrombou a Festa, de Rita Lee foi um dos grandes hits de 1977. Moraes Moreira cantava Pombo Correio. Belchior entoava Coração Selvagem. Retalhos de Cetim, de Benito di Paula esteve entre as mais ouvidas. Peter Frampton conquistou a rapaziada com Baby I Love your Way. Graças ao LP O Dia em que a Terra Parou, um dos cantores mais ouvidos e queridos no período foi Raul Seixas. A juventude era vidrada em músicas como Maluco Beleza e O Dia em que a Terra Parou. Mas nenhum cantor ou sucesso pode ou deve ser associado a 1977 tanto quanto o grupo ABBA.
O ABBA surgiu na Suécia no início dos anos 70. Era formado pelos músicos Benny Andersson, Björn Ulvaeus, Anni-Frid Lyngstad e Agnetta Fältskog. Apesar da origem escandinava, o ABBA cantava em inglês. O primeiro álbum de estúdio foi lançado em 1973 com o nome de Ring, Ring. Em 1974, saia o LP Waterloo e em 1975, o ABBA. Nessa altura, o grupo já fazia bastante sucesso em terras que não fossem a Escandinávia. O lançamento do disco Arrival, em 1976, catapultou a banda para o primeiro lugar nas paradas de diversos países. No Brasil, os maiores sucessos foram Fernando (lançada em alguns países como faixa bonus), Knowing me, Knowing you e Dancing Queen. Com Dancing Queen, o ABBA pegava carona na onda “disco”
Quem viveu o ano de 1977 deve lembrar que Dancing Queen era tocada em todos os lugares. A moçada escutava ABBA nas discotecas, nos bailes de formatura e nas festinhas de aniversário. Era jóia tomar Pop laranja, guaraná Brahma ou Crush nessas festinhas. Ao invés de encomendá-los, muitas mães compravam salgadinhos da marca Findus. O quibe da Findus era um prediletos.
Quem viveu 1977 comia macarrão Buitoni preparado com o extrato de tomate Elefante, da Cica. Se comia demais, podia aliviar o mal-estar com o sal de frutas Eno. E se passava mal, podia recorrer ao papel higiênico Primavera. Para escovar os dentes, usavam-se diversos cremes dentais, entre eles o velho Kolynos. Poucas pessoas sabem, mas o Kolynos foi lançado no Brasil em 1917 – portanto, 60 anos antes.
No Rio de Janeiro, a grande novidade foi a inauguração do aeroporto internacional do Galeão. Visitar aeroportos era o programa de domingo de muitas famílias. Por sua vez, viajar de avião era um luxo, mesmo no território nacional. As companhias mais conhecida dos anos 70 foram Varig, Vasp, Transbrasil e Cruzeiro do Sul. Em 1975, a Varig adquiriu a Cruzeiro do Sul, mas manteve o nome da empresa.
Quem viveu 1977 deve ter lido Harold Robbins, J. M. Simmel e Morris West. Um dos livros mais vendidos foi O Navegante, de autoria do australiano West. Mas, um dos gêneros de maior popularidade foi o policial, com a eterna dama do crime Agatha Christie, falecida no ano anterior. A morte da britânica Christie causou uma grande procura por seus livros. Outro gênero muito requisitado foi a ufologia, graças ao suiço Erich von Däniken. Desde o lançamento do best-seller Eram os Deuses Astronautas?, Däniken não parou mais de vender livros. O livro mais procurado nas livrarias por quem viveu 1977 foi Provas de Däniken.
Quem viveu 1977 deve ter assistido a “nova” versão de King Kong. Ao invés do Empire State, dessa vez, o gigantesco gorila despencava das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Mas o filme que causou sensação foi Star Wars – Guerra nas Estrelas, do diretor George Lucas. Star Wars inaugurou uma nova era do cinema de ficção científica, com efeitos especiais inéditos. Só que os filmes de maior público não foram norte-americanos e, sim, brasileiros. Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão e Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia foram esse filmes.
Com Renato Aragão, Dedé Santana, Zacarias e Mussum, os filmes dos Trapalhões eram uma franquia do programa Os Trapalhões, exibido pela Rede Globo nos início das noites de domingo. A maior concorrente da Globo era a Rede Tupi de Televisão. A Rede Record, TV Cultura, TV Gazeta e TV Bandeirantes tinham uma audiência pífia diante dos grandes sucessos da Globo, como as novelas e programas da noite. Chico City, A Praça da Alegria, Fantástico e Jornal Nacional sustentavam o monopólio da Rede Globo.
Quem viveu 1977 deve, sem dúvida, ter assistido as novelas Dona Xepa, Nina (no antigo horário das 22 horas), Espelho Mágico, Locomotivas e Sem Lenço, Sem Documento. O seriado Raízes, que contava a história de uma família negra norte-americana, marcou época.
Quem viveu 1977 deve se lembrar da bicicleta Caloi Ceci, lançada em uma ação de merchandising na novela Sem Lenço, Sem Documento. E deve se lembrar mais ainda dos cataventos verdes e amarelos lançados na Semana da Pátria. O país inteiro cantava a música O Brasil é Feito é Por Nós.
Quem viveu 1977 refrescava a cuca com um delicioso banho na ducha Corona, tomava água gelada servida na porta da nova geladeira GE, usava material esportivo da Adidas e fumava cigarros Charm. “O importante é ter Charm”, dizia a propaganda.
Quem viveu 1977 deve saber que o ABBA não foi um grupo qualquer. Foi um grupo que marcou época. O sucesso perdurou por todo o final dos anos 1970 e início dos 80. Nesse ano, o grupo lançou ABBA – The Álbum, gravação ao vivo de um mega-show na Austrália. Em 1979 o grupo lançou Voulez-Vous, mais um LP de grande receptividade. Super Trouper saiu em 1980 com os últimos grandes hits da banda: The Winner Takes it All e a faixa título. A música The Winner Takes it All fez parte da trilha sonora de uma novela da globo. Em 1981 chegou o álbum The Visitors, mas, a partír daí, saíram apenas coletâneas como nomes como ABBA Gold, ABBA Live e ABBA – Greatest Hits. A banda, porém, nunca foi esquecida. Mesmo por aqueles que não viveram 1977.

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