23/02/2010

AS BUZINAS E OS CASSINOS DO CHACRINHA


Chacrinha foi, ao lado de Hebe Camargo, Silvio Santos, Raul Gil e dos saudosos J. Silvestre, Bolinha e Flávio Cavalcanti, um dos maiores apresentadores da televisão brasileira. Foi registrado como José Abelardo Barbosa de Medeiros na cidade de Surubim, em Pernambuco. Ainda criança, mudou-se para Campina Grande, Paraíba, e adolescente, para Recife, em Pernambuco. Ingressou na faculdade de medicina, mas, três anos depois, acabou desistindo da carreira para entrar de cabeça na profissão que sempre teve vontade de exercer: radialista.
A carreira de radialista começou no Recife, em 1935. Anos mais tarde, já no Rio de Janeiro, lançou na Rádio Clube de Niterói um programa carnavalesco nomeado Rei Momo na Chacrinha. Vem daí o apelido Chacrinha, que Abelardo Barbosa assumiu com orgulho.
Seu primeiro programa de TV estreou na segunda metade dos anos 50, na extinta TV Tupi. Chamava-se Discoteca do Chacrinha. O sucesso foi tamanho que Abelardo passou a ser disputado por diversas emissoras, como as antigas TV Excelsior e TV Rio. Em 1967, assinou contrato com a jovem TV Globo, onde apresentou dois programas ao mesmo tempo: A Hora da Buzina (mais tarde Buzina do Chacrinha) e Discoteca do Chacrinha.
Chacrinha permaneceu na Rede Globo até 1972, quando voltou para a TV Tupi. Permaneceu lá até 1978, ano em que se transferiu para a TV Bandeirantes. O retorno a Globo aconteceu em 1982, com o Cassino do Chacrinha, programa que comandaria até a sua morte, em 1988.
Desde a estréia no rádio em 1935 até a morte na segunda metade dos anos 80, foram 53 anos de carreira. Seus programas sempre tiveram forte apelo popular. Quase todos os cantores e grupos musicais dos anos 50, 60, 70 e 80 passaram pelos programas que Chacrinha apresentou na televisão. Ele ajudou a lançar a jovem Celly Campelo e a projetar a carreira de grandes ídolos como Roberto Carlos. Movimentos como a Jovem Guarda e Tropicália também foram por ele incentivados.
Quem acompanhou Chacrinha ao longo dos anos sabe o quanto ele tinha estilo próprio e como mantinha uma maneira peculiar de se comunicar com o público. O modo como se vestia, os bordões que criava e mesmo o cenário dos programas refletiam aquilo que ele era: um personagem ligado ao povo e aos ícones da música brasileira, dos mais populares aos mais "cabeça".
Chacrinha costumava se apresentar de cartola decorada com lantejoulas (ou algo parecido) e plumas. Mantinha uma espécie de disco de telefone pendurado no pescoço e uma buzina à mão. A buzina era usada para reprovar os aspirantes a cantor de seus concursos de calouros. De vez em quando, fantasiava-se de baiana, Mulher-Maravilha ou noiva.
Além do concurso de calouros, o chamado Velho Guerreiro promovia os mais inusitados concursos. Alguns eram realmente bizarros - como o concurso do cachorro com mais pulgas do Brasil - e outros, nem tanto. Quem assistiu seu programa deve se lembrar de disputas como o garçom mais simpático, a mais bela comerciária, a mais bonita empregada doméstica, a Miss Vovó, a mais rápida datilógrafa e a mais bela criança do Brasil. Foi no concurso da mais bela criança que o Brasil ouviu pela primeira vez o nome de uma garotinha loira e futura apresentadora de TV chamada Angélica. Uma das competições mais populares foi a de mais bela estudante, em 1969, cuja final foi no estádio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
Algo que será para sempre associado ao velho Abelardo Chacrinha Barbosa serão os bordões. Os mais utilizados eram "Vocês querem bacalhau?" (Chacrinha realmente atirava um bacalhau para a platéia) e "Alô, Terezinhaaaaa!". Os outros não menos famosos bordões eram: "Quem não se comunica se trumbica", "Na televisão nada se cria, tudo se copia", "Eu vim para confundir e não para explicar" e "Vai levar o troféu abacaxi".
Além do júri (muitas vezes composto por astros da TV, como Tarcísio Meira e Glória Menezes) do concurso de calouros e da platéia, que participava ativamente do programa, Chacrinha contava com um time de dançarinas apelidadas de chacretes. Vestidas com um figurino colorido e sensual, as chacretes ajudavam a animar do público e a chamar a atenção do telespectador masculino para o programa. As mais famosas foram Fernanda Terremoto, Suely Pingo de Ouro, Fátima Boa Viagem, India Poti e Rita Cadillac. A popularidade de Rita era tamanha que, segundo contou Drauzio Varella em seu livro Carandiru, ela foi convidada a se apresentar para os presos do conhecido complexo penitenciário da Zona Norte de São Paulo. Rita também chegou a gravar alguns discos, um deles com a famosa música É Bom Para a Moral.
No retorno a TV Globo no início dos anos 1980, Chacrinha se emocionou ao receber no palco o velho amigo Roberto Carlos. A verdade é que Roberto foi apenas uma das centenas de estrelas que se apresentaram nos programas comandados pelo velho Chacrinha. Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Ney Matogrosso e Fábio Jr. foram alguns dos grandes nome da MPB a botar o pé no programa. Ídolos populares do calibre de Gretchen, Gilliard, Odair José, Amado Batista, Almir Rogério (do megasucesso Fuscão Preto), Vanusa e Silvio Brito e Joelma também foram extensivamente divulgados por Chacrinha.
Abelardo Chacrinha Barbosa faleceu em 1988. Meses antes, ele tinha se afastado do programa por motivos de saúde, sendo substituído por apresentadores como João Kleber e Paulo Silvino. Chacrinha tentou voltar ao comando de sua atração, mas não resistiu ao câncer no pulmão. Deixou um grande vazio na televisão brasileira. Muitos apresentadores vieram depois, mas nenhum com o carisma e, principalmente, irreverência do Velho Guerreiro.
Para terminar, uma curiosidade: quem o apelidou de Velho Guerreiro foi o cantor Gilberto Gil, que fez uma referência a Chacrinha na música Aquele Abraço.

17/02/2010

AS NOSSAS ROMÂNTICAS BALADAS DOS ANOS 70


Primeiramente, gostaria de perguntar se você lembra do Jackson Five. Eu imagino que sim, pois, com a morte de Michael Jackson na segunda metade de 2009, falou-se muito do grupo. Foi no Jackson Five que Michael inicou a carreira. E foi ouvindo I'll Be There que nós começamos a namorar. O Jackson foi muito popular entre o final dos anos 60 e início dos 70. Você gostava muito de Michael e não passava um dia sem ouvir suas músicas.
1970 foi o primeiro ano do resto de nossas vidas. Foi quando começamos a namorar e quando comemoramos, todos juntos, a conquista da Copa do Mundo do México. Que festa! Eu, você, o Arnaldo, a Angélica, todos os nossos amigos estavam juntos.
Mas não era só do Jackson Five que você gostava. Os Beatles também tinham lugar no seu coração, como tem em minha memória. Foi com você que ouvi pela primeira Let it Be e Something. Você decorou a letra de Let it Be só para me impressionar. Quando ouvimos que John, Paul, George e Ringo tinham se separado, ficamos chocados. Mas guardamos os LPs para ouvi-los sempre que desejássemos.
O romantismo sempre foi sua marca registrada. Embora nem tanto quanto hoje, você adorava trilhas sonoras de novelas. De tanto ouví-lo, deve ter produzido crateras no disco de Selva de Pedra, de 1972. Sua música predileta era Rock and Roll Lullaby, de B. J. Thomas. Lembra de B. J. Thomas? Não tenho idéia do nome do cara - nem o significado do B. J. -, mas recordo que, ainda em 1970, você não parava de ouvir Raindrop Keep Fallin'on my Head e Long Ago and Tomorrow.
Dançamos de rostinho colado com How Can Mend a Broken Heart, do Bee Gees, e Skyline Pigeon, de Elton John. Aliás, Elton e o Bee Gees lembram muito (e até demais) os nossos saudosos e irrecuperáveis anos 70. As músicas de Elton foram muito populares. Eu gostava de Daniel e você, de Island Girl. Quanto ao grupo Bee Gees, eu curtia How Deep is Your Love e você, de Love so Right. Juntos, ouvíamos How Can Mend a Broken Heart.
O que terá acontecido a Roberta Flack e Carole King? Em relação a Carole King, dizem que ainda faz shows por aí. Quanto a Roberta Flack, não faço a menor idéia que fim levou? Foi na vitrola de sua casa que ouvi pela primeira vez The Closer I Get to You, de Roberta e Donny Hathaway.
Sua coleção de discos era imensa. Tinha o Semideus, Corrida do Ouro, Anjo Mau, Pecado Capital, Locomotivas, O Casarão e, recordo muitíssimo bem, Duas Vidas. Certa vez, eu levei o LP com a trilha internacional de Duas Vidas para casa. Era um dos discos mais românticos de sua coleção. Se a memória não estiver falhando, uma das músicas era You're So Tender, de Christian. Lembra de quando nosso conhecido ídolo sertanejo cantava em inglês? Lembra, a propósito, dos brasileiros que cantavam na língua do Tio Sam? Eu sempre pensei que Morris Albert fosse inglês, escocês ou norte-americano. Jamais imaginei que fosse brasileiro! Isso nunca passou pela minha cabeça. Morris estourou nas paradas com Feelings e She's My Girl.
Voltando a falar de Duas Vidas, eu gostava principalmente de Tonight the Night, do Rod Stewart, e I Never Cry, de Alice Cooper. Você ficou horrorizada quando, anos mais tarde, descobriu que ele tinha uma banda de rock pauleira. Para você, para mim e todos que curtiam as baladas românticas dos anos 70, Alice será para sempre associado a sucessos como You Gonna See Me Now e a citada I Never Cry. Por sua vez, Rod Stewart manteve a fama de romântico por mais tempo. É longa a lista desse britânico de cabelos espetados e voz rouca: You're my Heart, Sailing e Tonight the Night.
Entre tantas bolachas com trilhas de novelas, você guardava um do Carpenters. O que aconteceu com o disco do Carpenters? Você gostava tanto dessa dupla romântica. Only Yesterday, I Need to Be in Love e Please Mr. Postman eram as suas favoritas. Isto é, pelo menos as que eu lembro.
Não dá para esquecer do Carpenters e muito menos de Billy Paul, Barry White, Commodores e Rita Coolidge. Foi no Commodores que emergiu Lionel Ritchie que, na década seguinte, fez sucesso em carreira solo. Still, Three Times Lady e Easy foram os grandes hits do Commodores. "Easy like sunday morning", cantava Lionel. Qual trilha tinha a música We're all Alone, da Rita Coolidge? Pecado Capital ou Pai Herói? Imagino que seja Pecado Capital, pois de Pai Herói lembro apenas de Mirrors, de Sally Oldfield, You Gonna See Me Now, de Alice Cooper, You Need Me, de Anne Murray, e Allouette, de Denise Emmer. Denise era filha de Janete Clair, lembra? Bons tempos aqueles.
Todos - ou quase todos - sabem quem era Alice Cooper. Imagino que até as novas gerações conheçam Rod Stewart. Mas, e quanto a Demis Roussos? Ele cantava a nossa inesquecível Forever and Ever. E Chris DeBurgh, e sua romântica Flying? Você dizia que sentia vontade de chorar sempre que ouvia Flying. E quanto a Jean-Claude Borelly? A sua grudenta (sei que você não vai concordar comigo) Dolannes Melody embalou o romance de muitos casais apaixonados. E Samantha Sing? Ou será Samanta Song? Não recordo direito. Sei apenas que ela fez um sucesso relativo com Emotion, cantada em parceria com o Bee Gees.
Eu lembrei: We're all Alone fazia realmente parte da trilha sonora de Pecado Capital. É provável que tenha sido tema do casal de protagonistas Márcio e Lili. Dreamin', do Liverpool Express, era do mesmo disco.
Será que alguém lembra de David Castle e seu sucesso You're too Far Away? E Babe, do Styx, alguém lembra?
Não era só de música internacional que vivia o romantismo da década de 70. Você, por exemplo, ouvia bastante música brasileira. Roberto Carlos era um dos seus prediletos. Detalhes, Como Vai Você, Força Estranha e O Portão tocavam sem parar em sua casa. Você adorava Mania de Você, da Rita Lee, A Lua e Eu, do Cassiano... O que aconteceu com o Cassiano? Será que está vivo? Faz tempo que não ouço falar dele. Você gostava também do Guilherme Arantes. Meu Mundo e Nada Mais é, até hoje, a minha música predileta. Você era fissurada em Tranquei a Vida, de Ronnie Von e, vez ou outra, dava para escutar Cláudia Telles.
Lembro que os anos 70 terminaram ao som de Kenny Rogers (She Believes in Me), Gino Vannelli (I Just Wanna Stop), Dionne Warwidk (I'll Never Love this Way Again), Air Suply (Lost in Love), Jimmy Buffet (Survive) e K. C. & Sunshine Banc (Please, Don't Go). Foi quando nos casamos. Você fez questão de que The Winner Take it All, dos suecos do ABBA, tocasse em nosso casamento. De resto, lembro apenas de You and I, de Paul Anka e Meirelle Mathieu. Foi nossa última música romântica. A última trilha foi Coração Alado. Depois, vieram a casa, o trabalho, os filhos e, ano a ano, o romantismo foi ficando para trás.
Mas eu guardei os discos e a lembrança. E toda vez que ouço Bee Gees em Mp3, lembro de nós dois dançando juntos, coladinhos, apaixonados.

03/02/2010

TRILHAS DE NOVELAS - CURIOSIDADES


A primeira trilha foi a da novela Véu de Noiva, lançada pela gravadora Philips em parceria com a Rede Globo. A primeira com músicas estrangeiras foi a de O Cafona, lançada em 1971. Confira nas linhas a seguir mais algumas curiosidades sobre trilhas sonoras e de abertura de novelas.


A gravadora Som Livre foi lançada pelas Organizações Globo em 1971, justamente para lançar as trilhas das novelas da Rede Globo. O Cafona foi a primeira telenovela a ter a trilha sonora produzida pela Som Livre.

A Som Livre lança, no mínimo, duas trilhas por novelas. Em alguns casos, são lançados três trilhas, como ocorreu como Belíssima, Roque Santeiro e América.

Vários atores gravaram músicas para trilhas de novelas. Aconteceu com Cláudio Cavalcanti na novela Irmãos Coragem (a música era Menina); Marília Pêra, em O Cafona (música: Shirley Sexy); Sandra Bréa, em Corrida do Ouro (Nem Pensar); Sônia Braga, em Saramandaia (Sou o Estopim); e Glória Pires, em As Três Marias (Coração).

No início, eram comuns as trilhas compostas especialmente para as novelas. A trilha de O Bofe, por exemplo, foi encomendada a Erasmo Carlos e Roberto Carlos. No de O Bem-Amado, as músicas foram feitas inteiramente por Toquinho e Vinicíus de Moraes.

A maioria das canções da novela O Rebu foram compostas pela dupla Raul Seixas e Paulo Coelho. O Rebu foi lançada em 1974, época de ouro da carreira de Raul Seixas.

A música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, foi tema de abertura de uma novela e uma minissérie. São elas Sem Lenço, Sem Documento (1977) e Anos Rebeldes (1992).

Rita Lee foi, sem sombra de dúvida, um dos cantores/compositores que mais tiveram músicas em trilhas e aberturas de novelas globais. Suas músicas foram tocadas nas aberturas de O Pulo do Gato, Chega Mais, Baila Comigo e outras.

O responsável pela pesquisa musical, trilha sonora e abertura da novela Bravo! foi o maestro Júlio Medaglia. Antes, Medaglia tinha trabalhado na trilha de O Noviço. As músicas de Bravo! eram inteiramente baseadas em trechos de concertos de Chopin, Beethoven e outros compositores clássicos. O sucesso foi tão grande que, mais tarde, a Som Livre lançaria mais dois discos de música erudita usando o nome da novela. Um detalhe importante: Bravo! teve outra trilha com músicas brasileiros, inclusive de Rita Lee.

O primeiro samba em abertura de novelas foi Pecado Capital, de autoria de Paulinho da Viola. O interessante é que Pecado Capital foi composta apenas 24 horas depois de o produtor Guto Graça Mello ter encomendado o tema para Paulinho da Viola. Outro detalhe interessante é que a música não costa em nenhum dos álbuns de Paulinho, sendo lançada apenas em coletâneas posteriores à novela.

A novela Mandala teve uma trilha sonora complementar chamada As Preferidas de Tony Carrado. Interpretado por Nuno Leal Maia, Tony Corrado era um homem piegas e de gosto duvidoso. Entre as músicas de As Preferidas… estavam Estrada do Coração (de Agepê) e Eu Já Tirei a Sua Roupa (Wando).

(Fonte: Memória Globo)