Quem viveu o ano de 1979 acompanhou com curiosidade – e uma certa
apreensão, vamos assim dizer – as notícias sobre a queda da estação espacial
Skylab. Ninguém sabia o ponto exato em que ela cairia na Terra, a única certeza
é que podia ser nos locais mais improváveis (um aglomerado urbano, talvez). No
final das contas, a Skylab acabou caindo num ponto remoto do oceano Pacífico.
A greve dos metalúrgicos do ABC era um dos assuntos que mais
chamavam a atenção nos jornais televisivos, radiofônicos e impressos.
Comandadas pelo sindicalista Luís Inácio da Silva, o Lula, elas desempenhariam
um papel importante na fundação do Partido dos Trabalhadores e na ideologia de
governo dos anos 2000.
Quem viveu o ano de 1979 testemunhou mudanças sociais importantes,
como a criação da Lei da Anistia, que permitia que exilados políticos pudessem
voltar ao país. A emancipação da mulher e o divórcio transformaram-se em
realidades palpáveis. Viu também como a inflação e a dívida externa ficaram
fora de controle. O milagre econômico do início dos anos 70 parecia cada vez
mais distante. Viu ainda a abertura política que seis anos depois daria fim ao
regime militar.
As personalidades mais faladas daquele ano foram o clérigo
iraniano Ruhollah Khomeini, que derrubou o xá do Irá; o ativista Fernando
Gabeira, um dos beneficiados pela Lei da Anistia; a atriz Regina Duarte, a
protagonista divorciada do seriado Malu Mulher; o cantor Sidney Magal, por ter
conquistado os programas de auditório com música como Sandra Rosa Madalena; e a
cantora Gal Costa, que estava no auge da carreira.
Os anos 70 foram bastante significativos para a música brasileira
e internacional. O tsunami de criatividade deu origem a disco music, ao punk e
outros estilos. Músicos de MPB como Chico Buarque, Jorge Ben, Gal Costa, Clara
Nunes, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Paulinho da Vila, Simone e Elis Regina
lançaram álbuns até hoje considerados clássicos. Nas rádios e programas
musicais na TV, a música brega de Odair José, Waldick Soriano, Benito di Paula
e Wando, entre outros, conquistava cada vez mais espaço.
Era o auge da onda disco. Nas residências, festas de formatura e
discotecas, a pessoas dançavam ao som de Bee Gees, Village People, Gloria
Gaynor, Chic e Anita Ward. Um dos grupos de maior sucesso entre 1 78 e 1979 foi
o norte-americano Village People. Ícone da subcultura gay da época, o Village
People emplacou várias músicas nos primeiros lugares das paradas. Curiosamente,
a disco já estaria totalmente fora de moda no curto período de dois anos.
A moda das discotecas permitiu o surgimento de um grupo brasileiro
formado apenas por mulheres: As Frenéticas. Em 1979, elas fizeram bastante sucesso
com a música-tema da novela Feijão Maravilha. O cantor Fábio Jr. estourou com
Pai, tema da novela Pai Herói. Nelson Gonçalves cantou o tema de Cabocla.
Outras novelas exibidas na época: Os Gigantes, Marrom Glacê, Aritana (uma das
últimas novelas de sucesso da Tupi) e Cara a Cara (uma produção da TV
Bandeirantes).
A Rede Globo resolveu investir pesado nos seriados, que eram
exibidos sempre nos finais de noite. Um deles foi Carga Pesada, com Antônio
Fagundes e Stênio Garcia; outro foi Plantão de Polícia, com Hugo Carvana. Mas
foi Malu Mulher, com Regina Duarte, que fez maior sucesso. Ao contar a rotina e
os desafios de uma mulher divorciada e que precisava criar sozinha a filha,
Malu deu muito o que falar. Ele ainda foi exportado para diversos países.
Diversos clássicos do cinema foram lançados em 1979, entre eles
Apocalypse Now. Dirigido por Francis Ford Coppola, ele é ainda hoje considerado
um dos melhores filmes da história do cinema mundial. Ele foi lançado quase ao
mesmo tempo que Tess, Kramer x Kramer, All That Jazz e O Campeão. O diretor
Franco Zefirelli fez milhões de pessoas chorarem com as cenas finais de O
Campeão (uma observação: se você assistir dez vezes, irá chorar dez vezes).
Um dos escritores mais lidos naquele final de anos 70 foi J. M. Simmel,
autor de Eu Confesso Tudo e Amanhã é Outro Dia. Harold Robbins lançou Os Sonhos
Morrem Primeiro e Morris West publicou A Estrada Sinuosa. O brasileiro Luís
Fernando Veríssimo conquistou leitores de norte a sul com as aventuras do
detetive Ed Mort. Mas foi o recém-anistiado Fernando Gabeira quem mais deu o
que falar com O Que é Isso, Companheiro?, um livro que anos mais tarde seria
adaptado para o cinema.
As pessoas tinham conta em bancos que não existem mais, entre eles
o Nacional, o Delfim, o Real, o Continental, o Bamerindus e o Comind. Faziam
compras no Jumbo-Eletro e Ao Barateiro. Liam jornais sensacionalistas como o
paulistano Notícias Populares. Assistiam Os Pankecas, Aritana e Clube do Mickey
na TV Tupi.
Os brasileiros que viveram 1979 usavam roupas íntimas da Poesi,
camisas da US Top e jeans da Staroup. Muitos homens de negócios de São Paulo
compravam ternos na Casa José Silva. As crianças usavam calçados Ortopé.
As crianças se divertiam com um jogo eletrônico chamado Telejogo
(um antepassado do atual Playstation), com as bicicletas do tipo BMX da Monark
e com as miniaturas da Revell. Colecionavam figurinhas da Turma da Mônica e
coleção Super Heróis do chiclete Ping Pong.
O telefone ainda era um luxo para a maioria dos brasileiros. Além
de caras, as pessoas tinham que esperar até dois anos para que as suas linhas
fossem instaladas. Comprar planos como os da Telesp (da cidade de São Paulo) e
da CTBC (que atuava na região do ABC) exigia um bocado de paciência.
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