É impossível
falar de 1992 sem mencionar os protestos pelo impeachment do presidente
Fernando Collor, a Eco-92, a atriz Sharon Stone e as duplas sertanejas Leandro
e Leonardo, Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano e Gian e Giovani.
Uma das duplas
de maior sucesso do final dos anos 80 e início dos 90 foi Leandro e Leonardo.
Naturais de Goiás, os irmãos Luís José da Costa e Emival Eterno Costa começaram
a se tornar conhecidos fora do estado de origem em 1986, ano de lançamento do
álbum Leandro e Leonardo Volume 1. Está certo que o disco (que por esses anos
eram lançados em CD e Vinil) não fez lá muito sucesso, mas significou o pontapé
inicial para uma carreira de glórias nas rádios, emissoras de TV e palcos. O
segundo e o terceiro trabalho foram mais bem sucedidos. Mas nada como o quarto,
batizado de Leandro e Leonardo Volume 4, de 1990. Foram mais de 3 milhões de
cópias vendidas de Sul a Norte, do Oiapoque ao Chuí. Enfim, a dupla se tornara
familiar a todos os brasileiros! Pudera, as músicas mal chegavam às rádios e já
estavam na boca do povo. Foi assim com Pra Nunca Dizer Adeus, Desculpe Mas eu
Vou Chorar e, principalmente, Pense em Mim.
Em 1992, chegava
ao mercado o sexto trabalho de Luís José (Leandro) e Emival (Leonardo) que,
infelizmente, não vendeu tanto quanto os anteriores. Mas ainda assim, eles permaneciam
no auge, colhendo os bons frutos da fama.
Leandro
& Leonardo dividiram os holofotes com diversas duplas sertanejas, especialmente
Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, João Paulo e Daniel e Gian e
Giovani. Na mesma época, estavam em evidência o axé de Daniela Mercury, o
pagode do Raça Negra e o grunge do Nirvana. Entre as baladas estrangeiras mais
tocadas nas rádios, não podemos esquecer de citar as belíssimas November Rain,
do Guns N’Roses, e I Will Always Love You, de Whitney Houston. A música de
Houston integrava a trilha sonora do filme O Guarda-Costas, protagonizado pela
cantora em parceria com o astro Kevin Costner.
Considerado
um dos melhores atores e diretores do período, Kevin Costner protagonizou
filmes como Robin Hood, Os intocáveis, Dança com Lobos, O Guarda-Costas e JFK –
A Pergunta que Não Quer Calar. A trilha sonora de O Guarda-Costas é uma das
mais bem sucedidas da história da indústrica fonográfica (o mérito, vamos ser
francos, deve-se em grande parte, a voz poderosa de Whitney Houston). Com
direção de Oliver Stone, o drama JFK perdeu o Oscar de melhor filme de 1992
para o terror psicológico O Silêncio dos Inocentes.
À propósito,
os produtores norte-americanos não tiveram do que reclamar naquele ano. Enquanto
o cinema brasileiro agonizava, Hollywood lançava um mega-sucesso atrás do
outro. Algumas das melhores produções da década de 1990 são desse período. Uma
delas é o violento Cães de Aluguel, o primeiro filme da carreira do diretor
Quentin Tarantino. Outro, é Perfume de Mulher, um dos melhores trabalhos do
ator Al Pacino no cinema. Devo ainda lembrar O Óleo de Lorenzo, Cabo do Medo,
Tomates Verdades Fritos, Malcolm X, Os Imperdoáveis, A Mão Que Balança o Berço,
Máquina Mortífera 3, Batman – O Retorno, Aladdin e Instinto Selvagem.
De origem
australiana, o filme Vem Dançar Comigo reavivou o gosto pelo bailado e dança de
salão. O número de novos alunos nas academias de dança disparou. Homens,
mulheres e até adolescentes desejavam aprender os passos do
personagem-dançarino Scott Hastings. Um detalhe curioso: a música do filme mais
executada nas rádios foi Love is in the Air, lançada inicialmente em 1978 por
Jonh Paul Young.
Ao mesmo
tempo em que pintavam a cara para sair em protesto contra a corrupção no
governo de Fernando Collor de Mello, os jovens daquele ano liam Paulo Coelho e faziam
comentário atrás de comentário sobre o desempenho de Sharon Stone no filme
Instinto Selvagem. Rapazes e marmanjões principalmente! Mas que dobrada de
perna era aquela? Será que Sharon tinha realmente dispensado a calcinha?
Não foi só
Sharon Stone que esteve na boca do povo. Falou-se muito no político Ulisses
Guimarães, morto num trágico acidente de helicóptero no litoral do estado do
Rio de Janeiro. E mais ainda de Daniella Perez. A atriz foi assassinada a
golpes de tesoura pelo ator Guilherme de Pádua e sua esposa Paula Tomás. Daniela
e Guilherme atuavam na novela De Corpo e Alma, de autoria de Glória Perez, mãe da
atriz. A morte de Daniela deixou o país em estado de choque. O folhetim foi
bruscamente interrompido, visto que Glória não tinha mais condições psicológicas
de tocar o projeto.
A
personalidade mais citada do ano, no entanto, foi o então presidente da
Repúplica Fernando Collor de Mello. Acusado pelo próprio irmão Pedro Collor de
liderar um esquema de corrupção, Collor foi alvo de dezenas de protestos em
todo o país. O povo não só pedia mais ética na política, como desejava a cabeça
do presidente. Os cara-pintadas – como eram chamados os jovens que aderiam às
manifestações – lotaram a Candelária, no Rio de Janeiro, e a Praça da Sé, em
São Paulo. Em Brasília foram 60 mil manifestantes; em Salvador, 80 mil; e em
Recife, 100 mil. Num dos protestos, quase todos foram às ruas de preto. Collor
tentou se defender com pronunciamentos em rede nacional, entrevistas para a
imprensa e discursos no meio político. De nada adiantou. Em setembro daquele
ano, a revista Veja publicava uma edição especial com a seguinta chamada de
capa: “Caiu!”. Com 448 votos a favor, o Congresso Nacional aprovava o
impeachment do presidente. Com o afastamento de Collor, o vice Itamar Franco
assumiu provisoriamente o cargo.
Em parte, os
cara-pintadas se inspiraram na produção Anos Rebeldes, exibida nos finais de
noite pela Rede Globo. Protagonizada por Malu Mader, Cláudia Abreu e Cássio
Gabus Mendes, a minissérie de autoria de Gilberto Braga, contava a história de
jovens que lutavam contra o regime militar. Eles não só aderiram à luta armada,
como participavam de manifestações de rua. Para um jovem indignado, sair às
ruas talvez fosse a melhor solução na luta contra um regime visto como
corrupto.
Outro
modismo lançado pela TV foi o “clube das mulheres”. Moças jovens e de meia
idade, além de muitas senhoras com mais anos de vida, perderam o pudor e se
reuniram em festas e apresentações com shows de striptease masculino. Quem
surgiu com a idéia foi Glória Perez, justamente na novela De Corpo e Alma.
Mais um
modismo: o infanto-juvenil Família Dinossauros. Exibida aos domingos pela mesma
Globo, o seriado contava as aventuras de uma família de classe média da
pré-história. Um dos principais personagens era Dino da Silva Sauro, o chefe do
clã. Carismático como Fred Flintstone e atrapalhado como Homer Simpson, Dino
arrancava gargalhadas dos fãs. Mas “não era a mamãe”. Ou melhor, não era o
Baby, o caçula da família. Com o bordão “não é a mamãe”, Baby consquistou a
simpatia de milhões de pessoas Brasil afora. Surgiram revistas, brinquedos,
jogos, enfeites para festas, uma infinidade de produtos com a família
jurássica. O brinquedo mais vendido? O boneco do Baby.
Além de se
ocupar com o impeachment de Fernando Collor, a imprensa teve trabalhou em dobro
para cobrir a escandalosa separação dos príncipes britânicos Charles e Diana.
Outro assunto que tomou as primeiras páginas dos jornais foi a chacina do
Carandiru, quando mais de 100 presos foram mortos pelas forças policiais que
invadiram o complexo penitenciário da Zona Norte de São Paulo. A
Bósnia-Herzegovina estava em guerra. Bill Clinton, ex-governador de Arkansas,
tomava posse como presidente dos Estados Unidos da América. A cidade espanhola
de Barcelona abrigava os Jogos Olímpicos de Verão. E, no Rio de Janeiro,
ocorria a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, a Eco-92.
Delegações
do mundo todo estiveram na Cidade Maravilhosa para discutir, entre outros temas
polêmicos, as mudanças no clima, a criação de fontes de energia alternativa e a
proteção de reservas florestais. Os jovens mais engajados fizeram questão de
participar do evento para, é claro, protestar. Protestou-se contra tudo e
contra todos. O Rio se transformou numa verdadeira aldeia global de consenso e
contra senso.
Mas nem
todos estavam interessados no impeachment do Collor – e muito menos na Eco-92.
Para alguns, interessante mesmo era o fim da reserva de mercado para
computadores. Os brasileiros finalmente podiam adquirir computadores e
impressoras importados. Mais antenados com as novas tecnologias, muitos mantinham
grande interesse pelo Macintosh, um computador com interaface moderna e fácil
de operar daquela empresa com o logo da maçãzinha colorida, a Apple.
Os mais
moderninhos (e de maior poder aquisitivo, é claro) usavam pagers e compravam
automóveis importados. Mas novidade
interessante mesmo era a TV por assinatura. Com uma taxa mensal, as pessoas
podiam pagar para ter acesso a um cabo que captava um número extraordinário de
canais. Um deles era a norte-americana CNN, com notícias 24 horas por dia.
Roberto
Shinyashiki e Louse L. Hay encabeçavam a lista de autores de livros de
auto-ajuda com maior vendadagem nas livrarias. Em ficção, os mais vendidos
foram Danielle Steel (O Brilho da Estrela), Sidney Sheldon (Juízo Final) e
Frederick Forsyth (O Manipulador). Devo lembrar que Paulo Coelho ainda estava
na crista da onda.
A dupla
Leandro & Leonardo se desfez em 1998, com a morte de Leandro, vítima de
câncer de pulmão. Leonardo seguiu carreira solo, e já em 1999 lançou o seu
primeiro disco sem o irmão.
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