24/11/2009
JANIS JOPLIN E O SURGIMENTO DO ROCK
Janis Joplin foi testemunha de seu tempo. Viu nascer a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnã e o Muro de Berlim. Soube que comunistas tomaram o poder em Cuba e foram perseguidos pelo poder nos Estados Unidos. Foi testemunha da vergonhosa segregação racial nos Estados Unidos e da luta dos negros por direitos iguais. Como muitos dos seus conterrâneos, Janis se maravilhou com a chegada do primeiro homem à Lua. E ficou chocada com os assassinatos de John Kennedy e, anos mais tarde, de seu irmão Robert Kennedy. As mortes repentinas de James Dean, Marilyn Monroe, Martin Luther King e Jimi Hendrix também mexeram com o imaginário dessa norte-americana originária do Texas.
Reza a lenda que Janis previra morte semelhante a de Hendrix. E não sem motivos. Vira e mexe, ela tinha problemas com as drogas.
Janis Joplin nasceu em Porth Arthur, Texas, em 1943. Tinha oito anos de idade quando começou a Guerra da Coréia e a “caça às bruxas” nos Estados Unidos. Possuir ligações com partidos de esquerda podia trazer problemas, sérios problemas para o sujeito. Mas, como toda criança de sua época, Janis não dava bola para essas coisas. Importante era se divertir e ouvir suas músicas prediletas.
A queda de Janes pela música negra nasceu cedo. Volta e meia, ela escutava Billie Holliday, Ray Charles e Nat King Cole. Mas era de Bessie Smith que ela mais gostava. Nascida no Tennessee, Bessie foi uma das maiores cantoras de blues da primeira metade do século XX. Tinha 43 quando morreu num acidente de automóvel. Sua morte causou comoção na época. O túmulo, no entanto, permaneceu sem lápide por um longo tempo. Foi Janis que, em 1970, providenciou uma lápide para o local onde repousava o corpo de Bessie. Era uma forma de homenagear a cantora que a inspirou.
Aos sete anos, Janis escutava Nat King Cole assiduamente. Não que gostasse. Nat King Cole dominava as paradas musicais, era ouvido em bailinhos, aparecia em programas de TV, enfim, era quase uninamidade. Enfim, parecia impossível não ouvi-lo. Sua popularidade só começou a cair por volta de 1955, quando Chuck Berry tomou as paradas com Maybellene.
Personalidades como James Dean, Albert Einstein, Grace Kelly, Dwight Eisenhower e Gene Kelly deram muito o que falar. Einsenhower, por exemplo, foi eleito presidente dos Estados Unidos e Gene Kelly estourara nas bilheterias com o filme Cantando na Chuva. No entanto, ninguém foi mais odiado, amado e falado do que um jovem do Mississipi chamado Elvis Aaron Presley. Sua música e seu jeito de dançar escandalizavam os mais velhos. A música Heartbreaker Hotel foi uma das mais ouvidas em 1956. Em 57, Elvis emplacar mais três sucessos: All Shook Up, Teddy Bear e Jailhouse Rock.
Todos falavam de um novo estilo, um tal de rock’n’roll. A jovem Janis Joplin não conseguia ficar indiferente a ele - como a maior parte dos jovens norte-americanos. Alguns dos maiores ídolos da segunda metade da década de 50 flertavam com o “rock’n’roll” : Bill Haley and His Comets, Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e Fats Domino. Alguns puxavam mais para o country e outros para o blues, mas todos faziam parte dessa estranha e contagiante mistura de ritmos brancos e negros batizado de rock. Fats Domino angariou seguidores com This is Fats. Little Richards conquistou a garotada com Heres’ Little Richard. Bill Haley e “seus cometas” abalou as estruturas com Rock Around The Clock. Elvis Presley, enfim, irritou os conservadores com Jailhouse Rock.
Passaram-se poucos anos do surgimento do rock’n’roll e ele já fazia sucesso no mundo todo. Até na América do Sul. No Brasil, ele aportou no final dos anos 1950. Dizem que foi a cantora Nora Ney, a primeira a gravar um rock. Mas aí são outros quinhentos.
Janis tinha 16 anos em 1959. Estava para se formar na “high school” quando surgiu uma nova boneca no mercado, batizada de Barbie. Marilyn Monroe era a grande estrela do cinema e Ray Charles emplacava sucesso atrás de sucesso. O jazz, que estava em alta, tinha com maior representante o compositor e trompetista Miles Davis. A música de influência negra “e feita por negros” ganhava um novo profeta: Berry Gordy Jr., da cidade de Detroit, Michigan.
Berry Gordy fundou a gravadora Motown, especializada em música negra. A Motown veio para mudar a história da música do século XX. Afinal, foi ela quem ajudou a lançar astros como Diana Ross, Marvin Gaye, Rick James, The Temptations, Jackson Five e Michael Jackson. Foi ela quem criou a indústria de hits e de certa forma, ajudou a conceber grupos como Spice Girls, N’Sync e Backstreet Boys. As músicas eram feitas sob medida (de encomenda, vamos assim dizer) e as coreografias dos músicos seriam sempre ensaiadas. De 1961 a 1971, a Motown emplacou 100 músicas nos primeiros lugares da paradas norte-americanas.
Janis não era indiferente aos sucessos da Motown e gostava muito de rock’n’roll. Mas seu forte era o blues. Nos anos seguintes, deixaria de ser uma mera espectadora para se tornar estrela da música. Não seria mais ouvinte, mas uma cantora. E testemunharia a grande explosão do rock dos anos 1960.
Isso, porém, é assunto para outro post.
16/11/2009
1975: SÔNIA CRAVO E CANELA
Antes de se tornar conhecida como Gabriela, Sônia Braga participou de alguns episódios de Caso Especial e novelas da Globo. Foram Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Fogo Sobre Terra. Sônia também trabalhou no infantil Vila Sésamo, exibido nos anos 1970 pela Globo e TV Cultura de São Paulo.
Em 1976, Sônia participou da novela Saramandaia e do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos. Mais tarde, estouraria nas bilheterias com o filme A Dama do Lotação e nas telinhas com o folhetim Dancin’Days. No início dos anos 80, Sônia voltou a interpretar a personagem Gabriela, só que dessa vez no cinema. O personagem Nacib foi interpretado pelo ator italiano Marcello Mastroiani.
Tanto a Gabriela da novela quanto a do cinema impulsionaram a carreira internacional da paranaense Sônia Braga. Mas o filme que projetou Sônia em Hollywood foi o Beijo da Mulher Aranha, de 1985. Mas o ano de Sônia Braga foi, no entanto, 1975.
O sucesso da novela Gabriela fez com que Sônia fosse recebida em carro aberto em Portugal. O sucesso fez meio Brasil cantar a música Modinha para Gabriela, de Dorival Caymmi - interpretada por Gal Costa. O sucesso fez com que Sônia fosse convocada para ser Dona Flor e a Dama do Lotação. Sônia Braga foi o maior símbolo sexual brasileiro da segunda metade dos anos 70.
Gabriela, digo, Sônia Braga foi um das personalidades mais influentes de 1975. Seu nome aparecia com frequência em revistas como Veja, Manchete, Contigo, Amiga e Sétimo Céu. Outras personalidades que estiveram na boca do povo em 1975 foram o piloto Emerson Fittipaldi, o atleta João do Pulo (que bateu o recorde mundial do salto triplo) e o humorista Chico Anysio. Por sinal, Chico só não fez mais sucesso por que não era mulher, nem era bonito como Sônia Braga. Mas quem fazia o Brasil rir no teatro e na televisão era ele e somente ele. O personagem Azambuja alcançou tamanha popularidade que ganhou séria própria. Os brasileiros viam Chico Anysio três vezes por semana. Ele interpretava diversos personagens no programa Chico City. Quem não lembra das esquetes e quadros de personagens como o velho Popó, o pai de santo Zuza, do coronel Pantaleão e do “astro” Alberto Roberto?
Foram ao ar na mesma época de Gabriela as novelas Pecado Capital e Escalada. A Globo passou a apresentar uma série de novelas baseadas em clássicos da literatura. A primeira (que teve pouquíssimos capítulos) foi Helena, seguida de Senhora e A Moreninha. Além de se contorcer de rir com Chico Anísio, os brasileiros se divertiam com a primeira versão de A Grande Família (que era exibida pela Globo) e com o programa Alegríssimo (da TV Tupi). Os domingos eram do apresentador Silvio Santos.
É provável que a nova geração não saiba, mas Silvio Santos foi o principal apresentador dominical da Rede Globo nos anos 70! Poucos brasileiros sabiam quem era o repórter de rádio Fausto Silva. Outra curiosidade: Roque e Lombardi já trabalhavam com Silvio em 1975. Silvio Santos costumava promover suas próprias empresas e produtos (Baú da Felicidade, Lojas Tamakavy e Vimave ) em seu programa.
O Brasil ainda convivia com o fantasma da falta de petróleo em 1975. A época do milagre econômico estava chegando ao fim e o povo começava a reclamar da carestia. A epidemia de meningite assustou as autoridades, que promoveram vacinações em massa em São Paulo. A Guanabara fundiu-se ao Rio de Janeiro. A Guerra do Vietnã (que foi, para muitos norte-americanos, um desastre) finalmente chegava ao fim. Nasciam países independentes, quase todos de língua portuguesa: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
Muitos paulistanos devem ter comprado aparelhos de TV Colorado na loja de departamentos Mappim, com endereço na Praça Ramos de Azevedo. Fazia pouco tempo que a cor tinha aportado na telinha e o sonho de boa parte dos brasileiros era ter um televisor colorido. Marcas como Telefunken chamavam a atenção para os aparelhos à cores em seus anúncios publicitários.
Os filmes “tipo catástrofe” estavam em alta. Robert Altman tinha acabado de lançar o clássico Nashville, filme ignorado pelas massas. O que elas queriam era assistir Aeroporto, Terremoto e Inferno na Torre. Também se interessaram por Tubarão, produção dirigida por um cineasta não muito conhecido por aqui: Steven Spielberg. E cinema de verdade era o cinema de rua. Os cinemas de shoppings surgiram anos depois.
Lançado em 1974, o LP Gita, de Raul Seixas vendeu horrores ao longo do ano seguinte. Aliás, Gita foi um dos principais hits do verão 74/75. Outro cantor que deu muito o que falar foi um tal de Mauro Celso. A canção Farofa-fa estourou nas paradas e inspirou torcidas como a do Flamengo, que não cansava de repetir: Flaro-Fla-Fla. As músicas internacionais mais ouvidas foram Flying (com Chris DeBurgh) e Feelings (de Morris Albert). Composta pelo brasileiro Maurício Alberto Kaisermann – ou simplesmente Morris Albert - Feelings fez sucesso em dezenas de países. A ele seguiram-se She’s my Girl e Conversation.
Fernão Capelo Gaivota (de autoria de Richard Bach), O Exorcista (de W. P. Blatty), O Machão (Harold Robbins), Arlequim (Morris West), Cães de Guerra (Frederic Forsyth), Teje Preso (Chico Anysio) e Calabar (Chico Buarque) foram os livros de maior saída das livrarias. A Gabriela de Sônia Braga reavivou o interesse pela obra de Jorge Amado. Tanto que Gabriela Cravo e Canela foi um dos livros mais vendidos na época em que a novela esteve no ar.
Depois do sucesso de O Beijo da Mulher-aranha, Sônia Braga radicou-se nos Estados Unidos, onde participou de vários filmes e séries de TV. Participou de Luar Sobre Parador, Rebelião em Milagro, Rookie, Morte Dupla e Um Drink no Inferno. Regressou ao Brasil cerca de 20 depois, quando fez duas pequenas participacões na novelas Páginas da Vida e Força de um Desejo. Recentemente (no ano de 2007), participou de uma versão brasileira de Desperate Housewives.
06/11/2009
1990: PAULO COELHO ESTÁ EM TODAS
Faz tempo que o escritor Paulo Coelho é conhecido do grande público. Antes de se tornar best-seller ele era conhecido como compositor, chegando a criar diversas músicas em parceria com Raul Seixas. Foi entre a segunda metade dos anos 80 e início dos 90 que Paulo “estourou” como escritor. Em 1990, mantinha três livros na lista dos mais vendidos: Diário de um Mago, O Alquimista e Brida.
O sucesso de Brida foi tamanho que, mais tarde, ele foi adaptado para a TV. Entre 1992 e 2008, Paulo escreveu diversos livros, entre os quais As Valkírias, Na Margem do Rio Piedra eu Sentei e Chorei, O Monte Cinco, Veronica Decide Morrer, O Demônio e Srta. Prym, Onze Minutos, O Zahir, A Bruxa de Portobello, Ser Como o Rio Que Flui e O Vencedor está Só. Todos, sem exceção, foram campeões de vendas. Mas, o ano de 1990 foi especial para Paulo Coelho.
Um dos campeões de vendas de 1990 foi Lembranças da Meia-noite, de Sidney Sheldon. Podemos dizer que é uma espécie de continuação do best-seller O Outro Lado da Meia-noite. Outro escritor que disputou o topo das vendas com Paulo Coelho em 1990 foi Rubem Fonseca, com seu clássico Agosto. Ruy Castro invadiu a raia com Chega de Saudade. O italiano Umberto Eco apareceu com O Pêndulo de Foucault e Ricardo Semler com Virando a Própria Mesa. Curiosamente, um dos grandes vencedores (e que virou febre!) de 90 foi o infantil Onde Está Wally?.
Em Onde está Wally?, a garotada tinha que encontrar o personagem escondido entre diversas multidões. Era difícil, mas todos conseguiam encontrá-lo. O livro do magrelo de óculos, gorro e malha listrada foi uma das manias de 1990, juntamente com as molas coloridas da Muzzi e os bonecos peludos esquisitos da Grow. Eram chamados de Fluffs. Alguém lembra?
O vídeocassete de quatro cabeças da Panasonic foi a grande vedete do lar em 1990. Era caro, mas boa parte da população dava um jeito de trazê-lo do Paraguai. Ou mesmo de Miami! O Panasonic de quatro cabeças dividia espaço com os “três em um” de marcas como Philco-Hitachi, Philips, Toshiba e Gradiente. Os aparelhos de som da Cygnys também tinham boa saída das lojas.
Tudo indica que Paulo Coelho possuia um Sterilair em casa. Fabricado pela Yashica, o Sterilair prometia umidificar o ar e matar micro-bichos asquerosos como o ácaro. Se Coelho não tinha, o resto do Brasil tinha, O Sterilair foi o único aparelho anti-ácaro a virar mania entre os brasileiros.
O Kitchen Machine foi a grande estrela da cozinha. Qual dona de casa não gostaria de ter um desses em casa? Ele fazia milagres. O problema é que dava trabalho para lavar. E que trabalheira!
Paulo tinha uma filmadora Samsung? Talvez sim, talvez não. O fato é que muitos brasileiros queriam uma filmadora VHS para gravar festas de família e, em seguida, assistí-las no Panasonic quatro cabeças. Ela podia ser comprada nas lojas de departamentos que ainda estavam em alta nesse tempo. Mappim, Mesbla e Sears eram algumas dessa lojas.
Os homens usavam perfumes como o Quasar, do Boticário. Sapatos e sapatilhas Sândalo estavam nos pés de muitos marmanjos. Os cintos Fasolo era considerados chiques por alguns. Adidas, Puma e M2000 figuravam entre as marcas de tênis prediletas. Jeans? A grife Wrangler era uma das mais desejadas. As calças jeans com estampas verticais nas laterais virou moda entre adolescentes e moças.
Fernando Collor de Mello assumiu a presidência do Brasil em 15 de Março de 1990. No mesmo ano, o Iraque invadiu o Kwait, deflagrando a Guerra do Golfo. O regime de segregação racial da África do Sul agonizava. Nelson Mandela, simbolo da luta dos negros contra o Apartheid foi libertado depois de 28 anos de prisão. O mundo comemorava o primeiro ano da queda do Muro de Berlim.
Os personagens do ano foram Fernando Collor de Mello, ministra Zélia Cardoso de Mello (que confiscou a poupança de quase metade dos brasileiros!!), Luma de Oliveira (que estampou a capa da revista Playboy), Madonna e Paulo Coelho.
Por falar em Madonna, ela foi uma das grandes estrelas de 1990. Blonde Ambition, título de sua turnê, rodou os palcos do mundo. Nós ouvíamos Leandro e Leonardo (Desculpe, mas eu vou chorar), Chitãozinho e Xororó (Nuvem de Lágrimas e Evidências) e Bon Jovi (I’ll be There For You). A lambada, que fora o principal modismo dos últimos tempos, agonizava. A house, um estilo de música eletrônica, continuou fazendo a cabeça da moçada de 1990.
No cinema, destaque para Nascido em 4 de Julho, Meu Pé Esquerdo (que garantiu o Oscar para Daniel Day-Lewis), Sociedade dos Poetas Mortos, Uma Linda Mulher, Ghost – Do Outro Lado da Vida e Esqueceram de Mim. Difícil apostar qual filme fez mais sucesso. Sociedade dos Poetas Mortos teve boa saída nas locadoras de vídeo. Uma Linda Mulher “bombou” nos cinemas e na TV. Ghost arrancou lágrimas em todos os países onde foi exibido. Quanto a Esqueceram de Mim, foi reprisado diversas vezes na TV ao longo dos anos seguintes.
Praticamente não havia telefonia celular no início dos anos 90. Ligar da rua, só se fosse de orelhão com ficha. O sujeito era obrigado a estacionar seu Lada recém-importado (a Lada foi uma das primeiras marcas estrangeiras a chegar por aqui) na rua e correr para o orelhão mais próximo. Marcava o encontro com a namorada para antes ou depois da novela Pantanal. Perder Pantanal? De jeito algum. Podia perder Rainha da Sucata, da Globo, menos Pantanal, que era exibida pela extinta TV Manchete.
Enfim, 1990 foi o ano de Paulo Coelho, mas também foi de Madonna, Fernando Collor de Mello, Beto Barbosa (o rei da lambada), Nelson Mandela, Leandro e Leonardo, Juma Marruá… Juma o quê? Juma era a personagem principal de Pantanal, interpretada pela atriz Cristiana Oliveira. Juma era apaixonada por Jove (Marcos Winter), filho rejeitado de José Leôncio… Mas aí são outros quinhentos.
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